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Investigadora chinesa recebe Prémio Nobel da Medicina

Caros amigos, compartilho com vocês a matéria publicada no portal português Martim Moniz que trata da premiação da chinesa Tu Youyou que recebeu o prêmio Nobel de 2015 por ter descoberto a cura da malária, tendo desenvolvido medicamento que salva mais de 1 milhão de vidas apenas no continente africano, além, é claro, de ter sido a 12 mulher a receber o Nobel de medicina, em 105 anos de premiações.

 

 

Fonte: http://ptmm.pt/pt/article-investigadora-chinesa-recebe-prmio-nobel-da-medicina-98

Abaixo, segue a matéria, boa leitura a todos:

Os investigadores irlândes William C. Campbell, japonês Satoshi Omura e chinesa Tu Youyou foram hoje galardoados com o Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina, segundo um comunicado da Academia Sueca.

Tu Youyou vai receber o prémio por uma inovadora terapia contra a malária, enquanto Campbell e Omura foram distinguidos pelas descobertas relacionadas com uma nova terapia para combater infecções provocadas por parasitas, como lombrigas.

William Campbell nasceu na Irlanda em 1930 e é investigador emérito na Universidade Drew (EUA); Satoshi Omura (nascido em 1933 no Japão), é cidadão japonês e professor emérito na Universidade de Kitasato (Japão). Ambos partilham metade do prémio. A outra metade recompensa a chinesa Tu Youyou (nascida em 1930), da Academia de Medicina Tradicional da China. 

Sendo a malária uma doença parasitária, causada por parasitas unicelulares que são transmitidos aos seres humanos por mosquitos infectados, esta doença pode causar febres altas, lesões graves, levando, muitas vezes, à morte. Tu Youyou descobriu um medicamento, a artemisinina, que tem reduzido de forma substancial as taxas de mortalidade devidas à malária: mais de 20% na população em geral e mais de 30% nas crianças, salienta o comunicado. “Estas duas descobertas deram à espécie humana poderosas novas ferramentas para combater estas doenças incapacitantes, que afectam centenas de milhões de pessoas no mundo todos os anos”, lê-se no mesmo documento.

Tu Youyou tornou-se assim a 12ª mulher a receber o Nobel da Medicina, em 105 prémios atribuídos desde 1901.

Campbell e Omura, por seu turno, descobriram um novo medicamento chamado avermectina – que “permitiu reduzir drasticamente a incidência da cegueira dos rios e da elefantíase. O tratamento tem tido tanto êxito que estas doenças estão à beira da erradicação, o que seria um feito maior da espécie humana.”

“O impacto global [destas] descobertas e o benefício resultante para a humanidade são incomensuráveis”, sendo o montante total do prémio de oito milhões de coroas suecas (850.834 euros).

 

A discussão sobre os vencedores

No dia 23 de Setembro de 2011, os Prémios Lasker Americanos, o grande prémio internacional da medicina, anunciaram o prémio em investigação clínica para a cientista Tu Youyou, honrando o seu importante contributo na cura de cerca de 1 milhão de doentes de malária. Esta foi a primeira vez desde a criação dos Prémios Lasker, há 65 anos, que foi premiado um cientista chinês.

Quando a notícia chegou à China, por detrás da glória, começou a emergir à superfície um caso conhecido por “523”, tão famoso como o das “duas bombas e o Satélite”, o qual contou ainda com interrogatórios que envolvem a própria Tu Youyou.

Uma missão secreta de um período especial

No ano de 1969, o centro de investigação onde estava Tu Youyou recebeu uma missão de desenvolvimento para “Medicamento anti malária da Fitoterapia Chinesa”, esse era uma parte de um grande projecto militar, com o nome de código “523”. A procura de um componente da cura para a malária na Fitoterapia Chinesa não é nenhuma novidade. No início da missão, os pequenos grupos de pesquisa que estavam a experimentar os efeitos da fitoterapia chinesa na cura da malária não tiveram a participação da Academia Chinesa de Ciências Médicas Chinesas. Só no ano de 1969, é que a Academia de Ciências Médicas Chinesas se juntou “a fim de aumentar a pesquisa na área da Fitoterapia Chinesa”, e desta forma também Tu Youyou passou a fazer parte do projeto. Ela tinha na altura 38 anos, no cargo de investigadora-assistente.

Tu Youyou rapidamente foi nomeada chefe de grupo de investigação, liderando um pequeno grupo para começar a pesquisar nos clássicos da Fitoterapia Chinesa Tradicional, visitando Médicos veteranos de Medicina Tradicional Chinesa, na busca de pistas da cura da malásia. Passados 3 meses, das mais de 2 mil receitas foram seleccionadas 640, que por sua vez foram fechadas em cerca de 100 amostras de teste. Até um dia em que Tu Youyou tomou uma decisão: usar éter etílico com ponto de ebulição máximo de 35ºC para substituir a água ou o álcool etílico para fazer a extração da planta “artemisia apiacea”. Assim chegou-se à descoberta fulcral --a temperatura é o ponto-chave da extração da “artemisia apiacea”.

A discussão entre o individualismo e o colectivismo

Naquele período especial, não era preciso uma tese famosa de uma pessoa, uma nova descoberta tornava-se uma riqueza para o grupo e era o suficiente. A primeira questão levantada pelos Prémios Lasker é: porque razão a artemisinina não ganhou um prémio na China, mas só ganhou um prémio no estrangeiro? Presentemente com 85 anos de idade Tu Youyou não tem grau de doutoramento, ou experiência de estudo no estrangeiro ou na Academia das Ciências, ou qualquer título de licenciatura da Academia Chinesa de Engenharia, até se costuma brincar dizendo que é “um cientista sem estatutos”. Após vencer o prémio de investigação médica dos Prémios Lasker, pela virtude da descoberta da artemisinina, Tu Youyou ganhou o grande prémio internacional. A disputa em torno desta recém-premiada dos Nobel segue o prestígio que lhe está associado.

No ano de 2006, Zhang Jian Fang, o vice-director do gabinete da direcção nacional dos grupos do projeto “523” referiu na sua obra “O relatório com atraso”: o sucesso na investigação com a artemisinina é um orgulho para o coletivo de investigação científico da China, todas as seis unidades de investigação tiveram a sua contribuição criativa. Não interessa qual foi a unidade, talentos, equipamentos, fundos, teorias e técnicas usados, esta obra era impossível ser o resultado do trabalho de uma só unidade.

 Contudo, os prémios Nobel não reconhecem sucessos do colectivo, dando antes relevo a uma personalidade que tenha desempenhado um papel decisivo no contributo. “Afinal de contas, só o individuo pode fazer descobertas, e não a organização. Numa era em que as organizações e instituições se tornam cada vez mais importantes, ser capaz de reconhecer o indivíduo enquanto detentor verdadeiro da força criativa e de mudança torna-se também cada vez mais importante.” Disse Glenn Hansen, secretário do Comité dos Prémios de Fisiologia ou Medicina.

A reflexão lançada pelo prémio de Tu Youyou

Ao falarmos de um herói, do “primeiro a descobrir”, não significa que estejamos a defender o “individualismo”, negando o contributo de todos os outros participantes na descoberta, mas  estamos sim a reforçar o contributo ímpar do descobridor para a investigação científica.

Ao explorar as trevas do desconhecido, é o primeiro descobridor que abre as portas da esperança, abrindo um caminho para as gerações vindouras poderem trilhar, e por isso a sua posição e importância são inegáveis.

A investigação científica não é um trabalho simples para uma “citação meritória” de honra, mas sim um tomar de risco intelectual na sua totalidade para os descobridores.

Só pelo respeito do “primeiro”, pela honra do “pioneiro”, se podem motivar outros heróis a lançarem-se aos desafios e perigos face à subida em direcção à glória luminosa.


Por Redacção

    • Reinaldo
      Reinaldo

      Este é o 10º prêmio recebido por um pesquisador/personalidade chinesa...

      China

      1. Tu Youyou, Fisiologia ou Medicina, 2015
      2. Mo Yan, Literatura, 2012
      3. Liu Xiaobo, Paz, 2010
      4. Charles Kao*, Física, 2009
      5. Gao Xingjian*, Literatura, 2000
      6. Daniel C. Tsui*, Física, 1998
      7. Tenzin Gyatso*, Paz, 1989
      8. Yuan Tseh Lee, Química, 1986
      9. Chen Ning Yang, Física, 1957
      10. Tsung-Dao Lee, Física, 1957
      • Filipe Santos Abreu
        Filipe Santos Abreu

        É verdade, obrigado pela contribuição. Também aproveito para apontar que no texto diz que Tu Youyou foi a 12ª mulher a receber o prêmio Nobel, na verdade ela foi a 45ª conforme podem verificar na página do prêmio Nobel. No mais o artigo está com informações corretas, toda contribuição é bem vinda. Obrigado Reinaldo. Abraços.